A Jovem Escritora Autista

Conheci outro dia uma pessoa bem, digamos, lamentável.
Vamos chamá-la de J.E.A., Jovem Escritora Autista.
É mulher. É escritora. É jovem. E, pelo meu diagnóstico, autista.
Nunca li nenhum livro dela; de antemão sei que não me interessa. Mas, já que estávamos juntas em determinado lugar (tipo, digamos, presas por uma boa meia-hora, sem escapatória), tentei conversar.
Perguntei coisas sobre ela, seu livro, etc. etc.
Hoje sei mais sobre ela do que nunca imaginei saber. O que, no final, cataloguei no meu fichário de informações não só inúteis, como indesejadas.
Mas o interessante mesmo e o motivo deste post, é que ela nada sabe de mim. Se souber meu nome, me deixará surpresa. Quer dizer: passamos uma boa meia-hora tipo trancafiadas juntas, e ela nada me perguntou. Se não sabia meu nome, portanto – o que é o mais provável – ficou sem saber.
Ou seja: um tempo de conversa que poderia ter sido talvez até bem aproveitado por nós duas deu nisso.
Não sei se estou sendo hipócrita ao dizer que, da minha parte, pelo menos, tentei. Ou tentei tentar, se é que me entendem. E se, depois de responder ao que perguntei sobre ela – nem que fosse só para não deixar reinar aquele tipo de silêncio constrangedoramente humano numa, digamos, a essa altura, cela – ela também perguntasse coisas sobre mim, talvez a impressão mútua pudesse ser mudada.
Do jeito que foi, daria uma cena de um filme: a pseudo conversa entre a escritora, digamos, madura, tentando tirar algum sumo da situação em que o destino a colocou x a escritora jovem que, fora responder a perguntas sobre sua vidinha boba, dizia para a situação, Que se foda!
E você vai me perguntar: Mas um escritor pode ser assim autista?
E vou responder: Não só pode como conheço outros.
Mas pode ser bom um escritor assim?
Sei lá! Quem sou eu pra saber esse tipo de coisa? O que sei, com certeza, é que essa, especificamente, não é.
Pena que pela fineza que mamãe me ensinou, eu não queira dizer seu nome aqui.

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