“Não muito longe dali, sentada nas grossas raízes expostas da grande castanheira de vasta copa, sua árvore, a Velha Pisadeira está agachada, escolhendo entre os vários tipos de ervas espalhadas pelo chão. Nos galhos grossos dessa castanheira cujo tronco centenário nem quatro homens adultos conseguem abraçar é onde ela montou sua choça, e dorme, nas noites em que dorme. Seu rosto é cheio de rugas profundas cujas bordas flácidas quase se dobram, cabelos completamente brancos presos em um rabo que desce até a cintura, corpo magricela e encarquilhado. É velha, velha, velha. O que nela parece não ter idade são os olhos fundos de tão intenso brilho negro que nem todos conseguem encarar.
E ali está meu Macu chegando devagar e, sem cerimônia, vendo as ervas no chão, vai indo vai indo e pega uma que começa a chupar, enquanto se agacha ao lado. Ao contrário da Pisadeira, meu Macu não tem idade, preto retinto e beiçudo como foi quando nasceu.
– Boas vidas, minha vozinha – ele diz.
Ela não levanta os olhos do que está fazendo:
– Boas, meu neto.
Macu chupa a erva, fazendo ruídos grosseiros. Continua tão sem modos como sempre foi.
– Matando muita gente por aí, veia? – ele pergunta.
– E você, fazendo muito nada por aí?
– Eu, não!
– Eu também não. E cê tá retinto de saber que mato pouco e só quando obrigada, porque meu gosto é o de curar. O que cê só faz me atrapalhar.
– Eu, minha vó!Por quê?
– Porque não consigo curar sua preguiça, homem! Num tem erva que dê conta.
– E eu lá quero que você me cure, veia implicante!
– Cadê seu irmão?
– Eu sei lá!
– Pois vá atrás de saber e ensine esse minino a escolher melhor o que me traz. Ele continua trazendo tudo errado. Vai.
Pisadeira pega um punhado de ervas e soca bem socado no pilão. Macu pede:
– Me dá um pouco dessas aí, vózinha.
– Tarde piaste, meu neto. Tá tudo triturado. Vai catar a sua, se quiser.
Macu se levanta, ainda mascando a erva que pegou ao chegar e, com os mesmos passos lentos de quando veio, vai embora. Meu coraçãozinho vai com ele, enquanto volto os olhos para minhas icamiabas.”
ONDE MEUS LIVROS DIGITAIS ESTÃO À VENDA
- Amazon – Fantasma de Luís Buñuel
- Amazon – O Voo da Arara Azul
- Amazon – Pauliceia de Mil Dentes
- Gato Sabido – Voo da Arara Azul
- Iba – O Voo da Arara Azul
- Iba – Pauliceia de Mil Dentes
- Livraria Cultura – Fantasma de Luís Buñuel
- Livraria Cultura – Pauliceia de Mil Dentes
- Livraria Cultura – Voo da Arara Azul
- Saraiva – O Voo da Arara Azul
- Saraiva – Pauliceia de Mil Dentes
Páginas
Arquivos
- fevereiro 2019
- janeiro 2019
- dezembro 2018
- novembro 2018
- setembro 2016
- dezembro 2013
- novembro 2013
- outubro 2013
- setembro 2013
- agosto 2013
- julho 2013
- junho 2013
- maio 2013
- abril 2013
- março 2013
- fevereiro 2013
- janeiro 2013
- dezembro 2012
- novembro 2012
- outubro 2012
- setembro 2012
- agosto 2012
- julho 2012
- junho 2012
- maio 2012
- abril 2012
- março 2012
- fevereiro 2012
- janeiro 2012
- dezembro 2011
- novembro 2011
- outubro 2011
- setembro 2011
- agosto 2011
- julho 2011
- junho 2011
- maio 2011
- abril 2011
- março 2011
- fevereiro 2011
- janeiro 2011
- dezembro 2010
- novembro 2010
- outubro 2010
- setembro 2010
- agosto 2010
- julho 2010
- junho 2010
- maio 2010
Links diversos
- Ana Maria Lopes
- Andrea Del Fuego
- Conexões Itaú Cultural
- Cris Lisboa
- Cronópios
- Drops da Fal
- Elvira Vigna
- http://therealobedlam.blogspot.com.br/
- Indigo
- Ivana Arruda leite
- Já matei por menos
- Labirintos no sótão
- Marcelino Freire
- Maria Valentina
- Nelson de Oliveira
- No mundo editorial
- Noemi Jaffe
- Sérgio Rodrigues
- Silvana Tavano
- Silvana Tavano
- The Tripas Corazon
- Todoprosa
- Valentina
- Zé Gabriel Lindoso
Anúncios